23 de fev. de 2008

RIP* (de Alma Welt

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Vem por aqui, Galdério, logo à frente
Vou te mostrar o que encontrei:
Uma cruz estranha que nem sei
Se é cristã ou coisa diferente.

Vê, gravada nesta laje, aqui, assim,
Algo muito gasto está escrito.
Será o túmulo violado e proscrito
Do antigo estancieiro Valentim?

RIP está gravado e se percebe,
O resto é posterior, mal redigido,
E suponho por alguém que ainda bebe

O vinagre do que, mal digerido,
Não sei, Galdério, mas o sinto,
Deixou seu travo em nosso vinho tinto.


(sem data)
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Nota da editora

* RIP- Iniciais do mote latino "Requiescat in Pace" (Repousa em paz), que era inscrito antigamente em alguns túmulos.

A recorrência nos Sonetos Pampianos da temática referente ao estancieiro Valentim Ferro, que vendeu a estância (depois chamada Sta Gertrudes) para o nosso avô Joachim Welt e em seguida se suicidou enforcando-se numa trave do sótão do casarão, faz-nos perceber como esses fatos assombravam o espírito sensível (e até sugestionável) de minha irmã, que considerava, percebe-se, que havia uma culpa persistente pesando sobre a nossa família, que plantou o seu vinhedo sobre esse túmulo amargo. (Lucia Welt)

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