23 de fev. de 2008

A arca (de Alma Welt)

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Qualquer poema meu ou texto escrito
Atiro numa arca muito antiga
Que contém de mim o feito e o dito,
Também algum mal-feito, há quem o diga:

Minha Mutti já não mais quer saber
O que eu registro do que vivo
Com receio de chocar-se ao perceber
O quão revelador é aquele arquivo.

E então ordenou ao meu Galdério
Que queimasse aquela urna arcana
Ou enterrasse além no cemitério

Esquecida de que o nosso charreteiro,
Bem mais fiel a mim que à Açoriana,
Não trairia o seu pampa verdadeiro...


25/08/2006

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Nota da editora

Encontrei, surpresa, este soneto inédito que se refere à própria arca dos escritos da Alma, de que eu sempre conheci a existência secreta e da qual fui aliada desde guria, ajudando-a mesmo, junto com o Rodo a escondê-la da Mutti. Entretanto Alma a mudou de esconderijo por receio de nossa mãe, que suspeitou de que o Galdério não a havia queimado (pois Alma não fingiu suficientemente um grande sofrimento e revolta) e a procurava. E eu só vim a redescobrí-la tantos anos depois da morte da Mutti e alguns meses depois da morte da Alma.
Quanto ao soneto, fui logo mostrá-lo ao Galdério, e o "galtcho" ou "Galdo", como a Alma o chamava, com o papel na mão, vi a folha vibrar, tremer. Creio ter visto um brilho no olho do gauchão fiel, que se manteve calado, nada comentou...
(Lucia Welt)

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