18 de set. de 2007

Gnose (de Alma Welt)

(213)

Quando a Açoriana faleceu,
Ela que era a mãe, a minha Mutti,
Eu pensei, depois do tanto que doeu:
"Talvez a vida agora eu desfrute."

Pois mais doía ainda a incompreensão
E ardiam nas costas as varadas
De marmelo, pela minha incontenção
E mesmo minhas cândidas noitadas

No leito do irmão, nós dois colados,
Como um ser que fosse uno, uma gnose
Pela qual nos fariam execrados

Pois teimavam em apartar desta guria
O ser com quem vivia em simbiose
E a quem devo toda a minha poesia...

08/09/2006

Nota da editora:

O amor, a paixão mesmo que unia Alma e Rôdo desde guris
foi motivo de escândalo e chegou a repercutir na região.
Mas pela intensidade e grandeza desse amor, produziu-se uma visível trancendência que alcançou, após a morte da Mutti, uma tolerância, senão uma conivência por parte de todos, até dos peões da estância (por incrível que pareça) e que acabou se tornando parte do mito da Alma, mesmo entre nós seus familiares, com exceção da Matilde, nossa querida babá, cuja rabujice católica nunca foi levada muito a sério por nós, pois sabemos quanto nos ama. Entretanto preciso dizer que meu ex-marido Geraldo ousou desrespeitar a Alma por isso, e por sua cobiça por sua beleza, coisa que testemunhei e que Alma descreveu no seu romance inédito A Herança. Surprendi-me com este soneto, encontrado no recém-descoberto "caderno secreto" da Alma pois nele ela revela o seu ressentimento pela "incompreensão" (afinal compreensível) da nossa mãe, diante do incesto de seu filhos. Mas notem que nele a palavra "gnose" é a chave para o entendimento da postura espiritual e física da Alma na sua relação com Rôdo. (Lúcia Welt)

Nenhum comentário: