21 de ago. de 2007

A pena do perdigão (de Alma Welt)

(158)

"Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha." (Luiz Vaz de Camões)


Um dia, colhendo na campina
As flores pra fazer lindo buquê
Eu vi no ar uma ave de rapina
Que vinha descendo num piquê

E parecia vir em minha direção
Mas virei-me para logo ver o alvo:
Um velho triste e cansado perdigão
De perdida pena e meio calvo.

E lembrei-me do soneto de Camões,
Inteiro, antes de vê-lo apanhado
Pois não pude salvar o desasado

Pois que quando o coração já sossobrou
Estamos à mercê dos gaviões
Que virão buscar o que sobrou...

15/01/2007

Nota da editora:

Este curioso e pouco citado poema auto-satírico de Camões, escrito a partir de um mote maldoso que lhe lançaram (ele andava sendo apelidado na côrte, de "perdigão", a ave de vôo curto) num momento de profunda dor e decepção amorosa, tem sua primeira quadra assim:

"Perdigão perdeu a pena" (o mote)
Não há mal que lhe não venha.

Quis subir a alta torre
Mas achou-se desasado
E se vendo depenado
De puro penado morre...

Perdigão perdeu a pena
não há mal que lhe não venha.

.........................
Alma era profunda admiradora de Camões,
que ela considerava o seu mestre direto no soneto
(Lucia Welt)

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