27 de ago. de 2007

O Vento e o Maestro (de Alma Welt)

(170)

Ontem soprou forte o minuano
E bateu todas as portas e janelas
E ainda passou por baixo delas
Para fazer vibrar nosso piano

Que pôs-se a tocar feito um espectro
De música, se é que isso houvesse,
Como uma paródia do Maestro
Que legara seu silêncio como prece

Pois pra que este emoldurasse
Sua música e em nós reverberasse
Nosso pai o tocava de outro plano

Então pedi perdão e o dedilhei
Pr'afugentar rei Mino, o tal tirano
Que invadira as cordas do Steinway...

22/06/2006

Nota da editora:

Fiquei pasma com a síntese poética com que Alma contou neste soneto esse episódio de que fui testemunha. O minuano invadira a casa e julgamos ouvir as cordas do piano na biblioteca vibrando como um órgão, instrumento de cujo som Alma não gostava e do qual tinha medo. Então pela primeira vez desde a morte do Vati sentou-se ao piano e tocou-o, numa espécie de concerto em meio à orquestra lúgubre da ventania. Ela parecia um pouco delirante e fiquei muito assustada, embora ela estivesse tocando magnificamente como se tomada pelo "maestro", como nosso pai era às vezes chamado. Ela só parou quando o vento passou. Eu e ela estávamos lívidas, mais brancas do que já eramos, segundo a Matilde que ouvindo o piano do patrão, veio da cozinha, assustada, para ver o que se passava. (Lucia Welt)

Um comentário:

Anônimo disse...

Soneto maravilhoso da grande mestra Alma! Extremamente visual e até auditivo. A gente é transportada para essa cena, no casarão, na noite de ventania, o piano fantasma, a Poetisa pálida de olhos esgazeados, e de branco, tocando, tocando, bela e delirantemente para fugentar o vento invasor, UAU!!!! A gente vê como uma cena de filme romântico dos anos 40, desses que já não se fazem mais...