5 de ago. de 2007

Minhas vidas (de Alma Welt)

(134)

Tenho certeza de que um dia voltarei
Assim como voltei já muitas vezes
No corpo de mulheres e de um rei
Que não perdeu seu trono mas as rezes*.

Fui poeta, pintora e não matrona
Mas me orgulho mesmo da D’Affry*,
Adèle, a Castiglione, a Colonna
Que descobri ao ver a sua Pithie*.

Mas no século das luzes e “de Ouro”*
Fui princesa com retrato no castelo
Pintada tão real e sem desdouro

Que tive o meu “portrait” então roubado
Por um Feig que embora também belo,
Soldado, desertor e desastrado.

17/01/2007

Notas da editora:

*"rei que não perdeu seu trono, mas as rezes"- Presumo que Alma se refere a Odisseu (ou Ulisses) que teve seu rebanho devorado em banquetes durante dez anos pelos pretendentes à mão de sua esposa e ao seu trono (Odisséia, de Homero). Por alguma razão Alma o considerava uma de suas encarnações.

*Adèle D'Affry, duquesa Castiglione-Collona, a maior escultora do século XIX, que assinava "Marcello" era uma beldade, nobre, rica, jovem e talentosa era amiga de Delacroix, de Gounod e fez o busto de Lizt. Freqüentava a corte de NapoleãoIII, era amiga da rainha Carlota. Esta suposta encarnação da Alma é o tema da misteriosa novela Perséfone (da Trilogia Mítica), de Alma Welt (o primeiro capítulo entitula-se Marcello) que está publicada nas suas páginas no Leia Livro.

* Pithie- Pronuncia-se "Pissí" que no soneto rima com D'Affry, significa Pítia ou Pitonisa, é a escultura mais famosa de Adèle (Marcello), e que está num nicho do "grand foyer" do Opèra de Paris desde que foi adquirido para essa finalidade no Salon de 1870 por Jules Garnier, o arquiteto construtor do Opèra.

* "século da luzes e de Ouro"- o século XVII. A estória dessa encarnaçãoda Alma como princesa, e sobretudo as aventuras do Feig (encarnação germânica, passada, do Guilherme de Faria, artista contemporâneo que descobriu Alma como escritora, está contada no conto criptológico entitulado "Anagramas" que está publicado no Leia Livro, e que conta como os dois se conheceram nos séculos XVII e XX. Através de seis anagramas consecutivos e perfeitos Alma desvenda um sonho-reminicência do Guilherme que explica as circunstâncias do primeiro encontro dos dois através do retrato pintado da Alma. Contudo, curiosamente,apesar de seu prodigioso dom de anagramista, Alma não revela ou não descobriu o seu próprio nome como princesa naquela época e mais dados sobre si mesma além do retrato.Mas o conto contém uma verdadeira saga vivida pelo Feig (Thomas Feig) a partir do seu furto do retrato da princesa no castelo onde fora sentinela.

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