16 de set. de 2007

O espectro (de Alma Welt)

(210)

Em noites frias aqui no casarão
Acontece do meu leito levantar
E enrolada num pala ir ao salão
Para sentir o silêncio crepitar

Na lareira, pois ali sou visitada
Por um mundo de imagens agradáveis
Que me trazem poemas inefáveis
Ou alguma coisa inusitada.

Foi ali que num lance inesquecível
O espectro da Mutti afinal veio,
Que fora tanto tempo inacessível,

E que porfim estendia-me os braços
Dizendo:"Filha, faltaram-nos abraços,
Quisera agora sentir-te no meu seio."

16/01/2007

Nota da editora:

Nossa mãe, Ana Morgado, que chamávamos Mutti, faleceu quando éramos adolescentes(Alma tinha 16 anos) tinha dificuldade de compreender o temperamento artístico da Alma, e havia muita dificuldade de relacionamento entre as duas, uma vez que Alma, apesar de aparentemente meiga era rebelde e tinha o respaldo do nosso pai, o Vati que tomara a sua educação em suas mãos e a criara como uma pequena pagã, em contato com a Arte e com os deuses do Olimpo e do Walhalla. Dir-se-ia que ele fazia uma espécie de experiência com sua filha predileta. Ele disse uma vez que faria da Alma não só uma artista, mas uma obra de arte. Alma teve muitos momentos penosos de conflito, incomprensão e intolerância por parte da Mutti, chegando mesmo a ser algumas vezes açoitada com vara de marmelo. Tudo isso transparece aqui na série dos "Sonetos Pampianos da Alma".
Este soneto me comoveu, pois revelou uma reconciliação, de algum modo, entre elas. (Lucia Welt)

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