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Estou correndo o risco de viver
A vida de soneto em soneto
Pois somente neles posso ver
A mim e meus fantasmas, como um gueto.
Tenho em volta a mim tanta beleza,
Este pampa, a pradaria, os animais,
E já não consigo ter certeza
Se são apenas versos ou reais.
Está faltando o senso do palpável,
Ou da tênue fronteira do real,
E temo já nem parecer saudável
Pois sinto que me olham já de esguelha,
E faço com o Rôdo uma parelha
De irmãos siameses do Nepal...*
19/01/2007
Nota da editora:
"irmãos siameses do Nepal"- Com esse estranho verso, não sem um certo humor Alma sugere o absurdo ou a estranheza de sua simbiose anímica com nosso irmão Rôdo, inseparáveis que eram desde a infância, apezar de Rôdo viajar bastante pelo mundo, como jogador quase profissional de pôquer.
Sonetos como este, levaram os médicos que conheceram Alma, como a excelente médica sueca doutora Jensen, que a conheceu na Clínica em 2005 e vinha tratando dela desde então, a acreditar numa "progressiva psicose de tipo esquizóide" (eufemismo para esquisofrenia), que fazia a Alma perder o senso de realidade e não distinguir mais sua poesia da realidade circundante. Mas, eu pergunto, não é assim toda a grande Arte? Novalis já tinha dito: "A Poesia é o autêntico real absoluto. Quanto mais poético mais verdadeiro." Alma era como alguns poucos poetas da história que viviam numa permanente dimensão poética. Seria isso que, afinal, custou-lhe a vida? (Lucia Welt)
10 de ago. de 2007
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