29 de ago. de 2007

Palavras ao Rôdo (de Alma Welt)


(173)

Rôdo, meu irmão, hoje não jogues,
Algo me constrange o coração,
Só peço que fiques, dialogues
E esqueças esta noite e sua mão.

Sonhei com um Royal Straight Flush
Sobre negra mesa de baralho
E depois um vermelho como um flash
Sobre as cartas, a mesa e o assoalho.

Então, irmãozinho, não me negues
Só um dia do teu jogo vou pedir,
E o de hoje peço que me entregues.

Depois quando o sol se levantar
E todo o nosso Pampa despertar,
Podes, de mim, no teu leito despedir...

12/01/2007

Nota da editora:


Me lembro bem desse dia. Nosso irmão Rôdo, jogador semi-profissional de pôquer, que saía quase todas as noites para jogar nas cidades vizinhas, assim como já o fez por meio mundo afora, aquela noite atendeu o pedido da Alma, pois aprendera a confiar nos pressentimentos dela desde a infância. Alma ia além disso e tinha um notável dom de vidência. Tenho certeza que o sonho da Alma e seu pedido salvaram naquela noite a vida do nosso irmão, cuja imensa sorte e habilidade no jogo despertavam freqüentemente invejas e ódios em alguns parceiros. É curioso também, neste soneto certa ambigüidade, pois o último verso dá a entender que como compensação ela dormiria com ele aquela noite, ou mesmo que todo o suposto sonho tenha sido um pretexto para isso. (Lucia Welt)

Um comentário:

Anônimo disse...

Soneto e epis�dio impressionantes. Alma era de uma sensibilidade divina. N�o me canso de admirar e surprender-me com ela. Alma transformava tudo em poesia. Ela mesma era um poema vivo.