1 de ago. de 2007

De outra nudez (de Alma Welt)

(127)

Esta noite acordei muito assustada
Não com simples pesadelo,vos garanto,
Era sonho de nudez inusitada
Que me deixava vulnerável outro tanto

E não como sonhei a minha nudez,
Com aquele cupido dos meus versos,
Queriam-me com outra cupidez
E havia novos lances adversos:

Estava exposta, pública e notória
Podiam comentar-me no café,
Eu não tinha mais recurso ou moratória,

E eu que era verde pasto, farto até,
Agora, na verdade, eu era a rês
Enquanto os lobos esperavam a sua vez.

17/01/2007

Nota da editora:

Este soneto parece ser mais um momento de vidência ou de premonição
da Alma.Daí a três dias ela estaria morta e sua morte motivou um
escândalo imenso no âmbito do Recanto das Letras. Os "poetas" cairam como corvos, senão como lobos sobre o seu cadáver, expondo-a a insultos e calúnias, impiedosamente, a começar pela suspeita indignada quanta à veracidade de sua morte. Alma estava como sempre nua e exposta, só que indefesa. Quanto a mim, como sua irmã, estava de mãos atadas, impossibilitada de manifestar-me naquele site onde só pudera entrar na página da Alma para publicar o anúncio de sua morte, pensando ser uma atenção para com seus amigos e admiradores. Ao republicar soneto "Visão" do dia 3/1/2007, para evidenciar a premonição de minha irmã quanto às circunstâncias de seu velório(que ocorreu tal qual sua antevisão) sua página
foi apagada subitamente pelos editores daquele site e seu cadastro cancelado, como reincidência no suposto crime de "notícia falsa". Nunca se viu um caso assim na história da literatura: uma autora ser punida por sua morte.
Entretanto, de lá para cá, meditando sobre essa aparentememente estranha e irracional reação dos editores e dos falsos amigos da Alma, e de tantos leitores indignados, e lembrando-me da máxima que Alma adotara "Não há injustiça no mundo", para tentar justificar a reação do público cheguei à seguinte conclusão:
As pessoas acreditaram mesmo ser uma notícia falsa, a partir do anúncio dos editores que assim o "denunciaram". A indignação veio por conta de uma característica cultural em nossa sociedade católica em que a morte é um dos maiores tabus: não se permite "brincar" com ela. E sobretudo o suicídio, que além de incorrer em crime moral ou espiritual dentro da doutrina católica(herdada da judaica) tem o poder de evidenciar a nossa própria vulnerabilidade: a morte do suicida é a morte potencial de todos nós por esse meio. É como se pudesse ser contagioso. É uma voragem, uma vertigem, chocante e intolerável para todos ao redor. Por isso se apressaram em condenar a maior poetisa surgida no Brasil nos últimos anos.
Mas não contavam com fato de que a Alma já era imortal, por conta da grandeza de sua obra excepcional em prosa e verso.
(Lucia Welt)

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