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Amai, donzelas, e se possível, dai-vos.
Nada se leva desta vida muito breve.
Direi como os antigos: coroai-vos
De flores, e que a dor o tempo leve.
Chegamos náufragas no mundo,
Donzelas encantadas qual Miranda*
Diante das mesuras e ciranda
Dos mancebos que sempre vão ao fundo*.
Perdemos a inocência lentamente,
Eis o nosso encanto e candura,
E tudo foi criado docemente
Por um Deus que ama tanto a criatura
Que a concebeu assim, urna selada,
Mais preciosa depois de violada.
03/01/2007
Notas da editora:
* Miranda - personagem da peça A Tempestade, de William
Shakespeare. Filha de Próspero, duque de Milão, que naufragou com ela em viagem e se tornou o rei de uma ilha encantada, criando Miranda na inocência, longe da malícia e maldade do mundo.
*..." mancebos que sempre vão ao fundo"- Alma com esta expressão ambígua parece aludir ao jovem Ferdinando, filho do usurpador, rival de Próspero que posteriormente naufraga, e quase se afogando vai dar à mesma ilha, sendo salvo por Miranda que se apaixona por ele. Ao mesmo tempo,o verso "sempre vão ao fundo" pode conter uma deliciosa malícia, típica da nossa Poetisa.
7 de jul. de 2007
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