1 de jul. de 2007

Às águas do meu poço (de Alma Welt)


Ofélia ou A morte de Alma Welt- óleo s/tela de Guilherme de Faria, 100x140cm, coleção Fernando Carrieri, SP, Brasil

(71)

Ele me espera, eu sei que morrerei
Sob a face do meu lago, tão serena.
Aqui eu fui feliz como nem sei,
Aqui eu mergulhei desde pequena.

Sou a Ofélia nua do meu poço:
Aqui fui cobiçada em minha pureza
Fui ali tomada com rudeza,
E continuo pura, sem esforço.

Nada tive que cobrar da natureza,
Nada tenho a reclamar do meu destino...
Sou Alma, a poetisa, e sou a mesma

Guria branca de gênio sonhador
Cuja vida haverá de ser um hino
À beleza, à liberdade e ao amor!

01/01/2007

Nota da editora:

Apesar de diagnósticos médicos controversos,
que incluiram inclusive "transtorno bipolar",
poemas como este me fazem ter certeza que Alma amava
demasiado a vida para ter aquele gesto extremo,
auto-destrutivo...
Por outro lado o soneto faz pensar no pressentimento,
senão vidência, de seu fim próximo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Que maravilha de soneto! Dos mais belos que já li em língua portuguesa. Alma era, e é, realmente, a maior poetisa deste começo de século. E nos impressiona mais ainda este soneto conter nas entrelinhas(ou nas linhas mesmo) o embrião ou a antevisão de sua morte trágica. Mas também não acredito que ela se matou. Infelizmente, aquele verso "ali fui tomada com rudeza" pode se referir ao estupro que sofreu antes de morrer, à beira do lago. É triste demais pensar isso, mas... Alma, em sua vidência, pode ter querido nos alertar.

Anônimo disse...

Sim, Lourenço. Arthur Rimbaud já nos falava sobre o poeta como Vidente. Toda essa série magnífica de sonetos da Alma parece um passar a limpo de sua vida pampiana ou uma despedida da autora. Ela mandava aqui e ali sinais do que ia acontecer. Pena que os pressentimentos nunca são totalmente conscientes, ou ela não iria banhar-se mais naquele
lago,que ela chama de "poço", e estaria ainda entre nós. Mas. pensando bem, ela está...ela continua.