15 de jul. de 2007

O que me disse a cigana (de Alma Welt)

(99)

Um dia voltando do meu bosque
Onde fora colher belas amoras
Eu vi uma espécie de quiosque
E ciganos a dançar as suas horas.

Pensei:"vou ofertar-lhes o que aqui tenho,
E juntar-me a eles por minutos..."
Ah! por quê é que não contenho
Esta sede de espalhar todos os frutos?

Pois logo uma delas veio a mim
E afoita agarrando a minha mão
Me levou para atrás de um carroção

E com estranho olhar me disse assim:
"A *Moira vê, te cobiça, e eu cuidaria,
Porquanto jorras tanta e tal poesia!"

08/01/2007


Notas da editora:

* Moira - A Morte, uma das várias naturezas
de Ananque (a Necessidade) entre
os antigos órficos gregos. É um princípio teogônico
(arqué) ao mesmo tempo que uma deusa. Outras naturezas da
Necessidade eram, por exemplo, Dyké(a Justiça),
Niké( a Vitória), Fado (o Destino), Belona (a Guerra),
a Discórdia, etc.

Este soneto me parece mais um momento de
de premonição da Alma, quanto à proximidade
de sua morte, onze dias depois.

2 comentários:

Rogério disse...

Como sou grande o suficiente para reconhecer meus erros, posso dizer que a polêmica escritora Alma Welt foi alvo de minha indignação e revolta injustificadas. No entanto, hoje, após raciocionar, refletir muito, penso que reconheço a grandeza desta misteriosa escritora. O que acontece no RL acontece em nossa vida cotidiana. E de forma muito mais cruel. Ocorre que este fenômeno literário chamado Alma Welt despertou a ira e a inveja por ser ela uma personalidade misteriosa e livre das convenções sociais sub-pirilâmpicas, nosferáticas, sombriáticas. PENSO QUE EU MESMO, NO MEU EGOÍSMO, FIQUEI COM RAIVA DA ALMA. Reconheço que fiquei desconfiado de sua morte. Mas hoje, não tão tacanho como na época de seu falecimento, me sinto apto a dizer que ela realizou uma obra literária de valor, embora não agrade, em algumas partes, a certos poetas e escritores, devido a ousadia das palavras da Alma. É complicado tentar entender a Alma. Mas todos sabemos, no fundo, que a Alma é imortal!Pretendo publicar em meu blog algo sobre ela, quando tiver mais tempo. Acontece que me correspondi com a Alma e, como pessoa, nunca vi maldade nela. Apesar de reconhecer que fui, em certo sentido, ingrato ao não compreender a sua morte e o seu ato irrefletido. Meus escritores favoritos, Robert E. Howard, Jack London, outros, todos cometeram o suicídio. Parece-me que na antiga grécia, se nao me equivoco, cortar os pulsos e suicidar era um ato nobre; ocorre que esta mentalidade judaico-cristã, que parece querer queimar no inferno os suicidas, me parece uma besteira. O ser humano tem sim o direito de pôr fim à sua vida e coroar sua obra e existência de forma heróica. Morrer de velhice ou por uma bandeira numa guerra me parece mais heresia que o suicídio. O que ocorreu comigo no Recanto me parece ter sido uma grande lição. A gente, que quer voar no alto, tem que voar sozinho. Para criar algo novo, é preciso estar no alto. Eu tenho um poema em meu blog chamado ENTERREM MEU CORAÇÃO SONHADOR NO ALTO DA MONTANHA DA SOLIDÃO, no qual penso que expressei essa característica artística dos grandes poetas. Um abraço.www.rogerio.k6.com.br

Anônimo disse...

Reconheço a grandeza da Alma!Tenho um poema que bem poderia ser dedicado a ela, está no meu blog, chama-se ENTERREM MEU CORAÇAO SONHADOR NO ALTO DA MONTANHA DA SOLIDAO.
Eu acredito na imortalidade da Alma.