28 de jun. de 2007

Alma insegura (de Alma Welt)

56)

Sinto falta do "velho" em minha vida:
Minha mãe morreu em meio à lida
E meu pai não era velho, era lúdico,
Assim, como uma espécie de deus músico.

E agora olho em volta: tão sozinhas,
Quando é a mim que cabe ser esteio,
As crianças cresceram de permeio
Entre mim e sua mãe, as pobrezinhas.

Bem sei que não devo me queixar,
Não sou fraca, assim, de jogar fora,
Embora só pareça poetar...

Mas é que aos poetas, disse Keats*,
Falta aquele caráter, muito embora
Pareçam estar com a vida sempre quites.

24/12/2006


Nota da editora:

Pesquisando a bibliografia da Alma, descobri o texto
a que ela se refere ao citar o poeta romântico inglês John Keats
(1795-1821). Trata-se de uma carta do poeta em que ele diz que todos os seres da natureza, homens, mulheres, crianças, as estrelas, etc, todos eles criaturas de impulso, são poéticos por excelência porque possuem um atributo imodificável que lhes confere identidade. O Poeta (com excessão do tipo "egotista sublime")carece de identidade própria, porque se vê na contínua nescessidade de ocupar o corpo de outrem. Seria na verdade, como diria o nosso Mario de Andrade, um "herói sem nenhum caráter".
Mas acontece que Alma, enquanto poeta confessional, se inscreveria justamente no tipo egotista sublime. Sua identididade é nítida e seu caráter bem marcado, delineado. E sua autocrítica é sempre perpassada de humor. Por essa e outras coisas sua morte ainda constitui um enígma.

Um comentário:

Madalena Barranco disse...

Olá Lúcia, o soneto é belo, mas sugere um enigma quando Alma fala de saudade e de caráter também. Ela se auto julgaria, então? Desconhecia essa informação de Keats. Beijos e obrigada.