15 de set. de 2007

De pôquer e Da Vinci (de Alma Welt)

(208)

Rôdo, irmãozinho, estás de volta
E jogas cartas e dinheiro sobre a mesa.
Talvez penses aplacar minha revolta
Com os signos da tua realeza.

Eu sei que pouco perdes e mais ganhas
E que o pôquer é "cosa mentale",*
Que como a arte do Da Vinci isso vale,
Já conheço teus recursos e barganhas.

Mas, irmão, não vês que ficas longe
Por tempo demais para esta Alma
Que está longe de ser como o tal monje*

Que enviou o companheiro ao monastério
Em missão, e esperou com tanta calma
Que o reencontro foi no cemitério?

03/01/2007

Nota da editora:

"cosa mentale"- Leonardo Da Vinci escreveu num códice seu que "pittura è cosa mentale", enunciando de maneira pioneira o conceito de pintura como expressão intelectual e mesmo "conceitual", o que seria grato à crítica do século XX, ou seja da "arte moderna". No soneto da Alma ela parece se referir a uma conversa que teve com Rôdo, em que ele teria defendido sua obsessão pelo pôquer como por uma arte intelectual e profunda.

".. o tal monje"- Não foi possível identificar ou reconstituir essa estória, talvez um "koan" zen, a que Alma estaria se referindo nestes versos. Desconfio que Alma inventou esta estorieta, como ela fazia muitas vêzes, para justificar idéias suas num verso, tal como já o fazia Jorge Luis Borges, o que aliás é prerrogativa dos grandes poetas: criar suas próprias lendas e mitos e citá-los como se já fossem do conhecimento universal, o que é no mínimo muito divertido. (Lucia Welt)

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