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Meus leitores me queriam consolada
De ser assim, como uma louca a vagar,
Lida por tantos, por vezes incensada,
Deveria ou poderia me queixar?
Não, eu sei, não passa de uma falha
De caráter do ser dúbio que me fiz,
Que "por dá cá aquela palha"*
Me sinto rejeitada e infeliz.
Mas é que antes de poeta, sou mulher
E, ai! tão carente de carinhos,
Procurando carícias onde quer
Que eu esteja, como os filhotinhos
Da minha cadela agora tão risonha...
Bah! Devo calar-me, que vergonha!
18/01/2007
Nota da editora:
* "por dá cá aquela palha"- expressão arcaica, tipicamente lusa, só possível de aparecer na poesia de uma guria de muita convivência com a literatura portuguesa ou brasileira do século dezenove. A propósito, Alma mesmo sendo ainda jovem tinha por incentivo de nosso pai e por natural pendor, adquirido uma espantosa cultura literária, às raias da erudição. Me admira, inclusive, que tendo lido tanto, inclusive de noite, Alma nunca tenha precisado de óculos e tenha mantido sua beleza.
Neste poema vejo também uma dose de humor que a Alma não perdia mesmo nos seus momentos de aflição.
Alma nestes seus últimos dias procurava razões para sua angústia, solidão e inquietude que ela confundia com carência. Presumo que minha irmã, na verdade presentia sua morte iminente, que ocorreria dali a quarenta e oito horas deste soneto. Entretanto, nós, sua família sabemos agora que Alma não se matou, foi assassinada. Sempre tive dúvidas quanto ao que realmente tinha acontecido. Há quatro meses a polícia começou uma investigação aqui na estância, que resultou na prisão do assassino, que já confessou. Daqui há poucos dias haverá a reconstituição do crime no local do ocorrido, nosso poço da cascata. Estamos diante de um novo tormento, embora o esclarecimento da tragédia (tão grande quanto...) tenha confirmado a luz e visão positiva que sempre vi na vida e na obra da grande poetisa e humanista que foi a amada Alma. (Lucia Welt)
8 de ago. de 2007
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